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Avó de Marília Mendonça relembra infância da cantora e fala sobre perda de neta e filho

“Um baque muito doído”, diz Teresa de Jesus Vieira, 78 ano

Uma semana depois da tragédia que levou a Patroa do Brasil, e deixou uma sofrência diferente no final de semana dos brasileiros, a avó de criação de Marília Mendonça, Teresa de Jesus Vieira, 78 anos, relembra a infância e a cumplicidade da neta, com vocação para os palcos desde criança. Foi em uma casa na rua Cananéia, em Goiânia, que Marília aprendeu os primeiros acordes, ensinados por seu avô e marido de Dona Teresa, Abicieli Silveira Dias, lugar onde a avó de consideração da artista vive até hoje.

Dona Teresa se casou com Abicieli quando Ruth Dias, mãe de Marília, já era nascida, fruto do casamento anterior do pai. Com as mãos no peito, a idosa diz que a enteada era como a filha que nunca teve. Logo os laços se estreitaram depois que Dona Teresa teve deu à luz a Abicieli Filho, irmão de Ruth, morto no acidente aéreo junto com a sobrinha Marília.

“Ela [RUTH](Ruth)chama eu de tia, a menina [MARÍLIA](Marília) me chamava de vozinha”, conta a senhora, ao mostrar um quadro da cantora ainda criança. “Criada tudo aqui com os pés no chão, tudo pobre. Isso é uma lembrança muito doída né. A minha casa está uma bagunça porque só Deus sabe, eu to só viva, é uma tragédia” é o que diz ao pensar no acidente.

Dona Teresa expressou ter medo de voar de avião, sentimento que a neta compartilhava. Em 2019, Marília postou em suas redes sociais que trocaria qualquer coisa para não pegar avião, só para ficar perto da família. Sua avó conta que a Rainha da Sofrência já havia dito sobre a aversão.

Também disse que ao saber do acidente, logo imaginou que sua perda seria em dose dupla. “Se Marília Mendonça morre, meu filho morre junto”, pensou. Abicieli, além de tio, era o assessor e ‘companheirão’ de trabalho da sobrinha.

Completando os sete dias, Dona Teresa diz que as horas andam difíceis, mas sabe que precisa tocar em frente. “O que eu posso falar é que é um baque muito doído, mas nós temos que levar o baque para frente, não tem?!”

Recordações

A avó mantém pela casa objetos e fotos com o rosto da neta. “Eu tenho as modas dela tudinho aqui. Era um amor de gente. Morreu uma neta querida para mim e o para o Brasil inteiro, e meu filho acompanhando ela.”

Relembrando os lugares que Marília costumava tocar violão dentro e fora de sua casa, Dona Teresa mostra os pontos que a cantora mais gostava quando criança. “Ela tocava no lugar daquela lixeira lá na frente, eles arrancaram, mas era igual aquela lá [aponta para outra árvore próxima], sentava ela mais o avô dela num tamboretinho e tocando violão, tocava violão aqui [MEIO FIO], na cozinha, nunca esqueci.”

A residência de muro alto, que abrigou várias gerações, hoje traz lembranças de alegrias e despedidas para Dona Teresa. Quatro é o número de familiares que ela já enterrou, um deles, seu marido. Ao som de colcha de retalhos, de Chitãozinho e Xororó, ela fala do amor que sentiu pelo avô de Marília, o homem que a proporcionou o afeto da neta. “As memórias são boas desde que ela era bebezinha, todas as lembranças são positivas, boas. Conheci ela bebê, conheci ela andando, conheci ela vindo aqui e dormindo na caminha simples que era do meus filhos. Depois vinha aqui ajudar a trazer as coisas para mim, trazer carne, vinha lá da chácara para me ajudar. Toda vida foi uma pessoa maravilhosa na minha vida.” conta.

Dona Teresa diz que a última vez que viu Marília foi há um ano, no aniversário de Ruth Dias, mãe da artista, na chácara da cantora. Ela também explicou que Marília passava com o carro discreta pela casa dela para conversar, mas não costumava descer ou ficar muito tempo. Segundo ela, por medo das pessoas descobrirem o local e se aglomerarem.

A avó relata que abriu mais um espaço em seu coração para Leo Dias Mendonça Huff, filho de Marília com o também cantor sertanejo Murilo Huff. “Um dos bebês mais fofos que eu já vi, ele é muito lindo, muito bonito. Meu bisneto.” sorri ao pensar no bebê, que completa dois anos em dezembro.

Marília levou suas raízes para as primeiras gravações, com o violão do avô em mãos, lançou seu primeiro álbum. Na garganta o grito de Infiel, conquistou fãs Brasil afora. Foi no mesmo período, que Marília gravou Aceita Que Dói Menos” ao lado do Trio Parada Dura, música que hoje está no acesso rápido do celular de Dona Teresa, e que antes ela escutava para prestigiar e abençoar a neta. Agora, sete dias após a partida da neta e do filho, sussurra junto com os cantores a letra da canção, que mantém viva a imagem da artista e de Abicieli.

O blazer verde que Marília usou para a gravação, agora Dona Teresa veste com afeto. Ela garante que a roupa nunca foi lavada e tem um pouco da cantora até hoje. “Eu gostava demais da conta [das músicas de Marília], a que eu mais gostei foi essa que eu passei [Aceita que Dói Menos] porque foi o começo, uma das primeiras que ela fez. Eu tenho a blusinha dela guardada”

As fotos, que compõem a parede de Dona Teresa, mostram Marília ainda no começo da sua carreira. “Alá ela lá, bonitinha, a boquinha dela parece do pai dela” aponta. Enquanto o Trio Parada Dura canta “tô aqui jogado fora”, ela repete “to aqui jogada fora”. Quando eles cantam “quem me amava de verdade”, ela completa “foi embora e me deixou.” (Foto: Wesley Costa / O Popular)